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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Enquanto a “UNE” do Chile mobiliza, nossa UNE agoniza




Não é novidade para ninguém a forte mobilização que está ocorrendo entre os estudantes chilenos por mais acesso à educação superior. Sem fazer juízo de valor quanto à causa chilena, já que há controversias quanto a eficácia quando comparado a outros países da América do Sul, o fato é suficiente para fazermos uma comparação entre o movimento estudantil no Brasil e no Chile.

A principal liderança chilena é uma estudante de Geografia de 23 anos, Camila Vallejo, que também é presidente da Federação dos Estudantes da Universidade do Chile (FECH). O atual presidente da UNE é um estudante de Ciências Sociais, Daniel Ilieuscu, 26 anos, que está na sua segunda gestão na UNE. Antes foi Diretor de Relações Internacionais da entidade.

Tenho sempre toda boa vontade do mundo com a UNE, acho que por ter feito parte ativamente do movimento estudantil, como Presidente do DA do meu curso e depois do DCE, mas para algumas coisas é simplesmente impossível fechar os olhos.

A verdade é que a União Nacional dos Estudantes virou um escritório mal acabado do PCdoB. Cada vez mais é subjugada aos interesses partidários e perdeu completamente a ligação com os estudantes. Hoje em dia a garnde maioria dos discentes não se sente representada por sua entidade, que na prática elege seu presidente através de reuniões da UJS, que é um braço partidário do PCdoB na juventude.

Obvio que os partidos se farão representar nas entidades, apesar do falido quadro partidário brasileiro, mas os interesses da entidade devem sempre estar acima dos interesses do partido. Basta dizer que não conseguem tirar uma palavra oficial da UNE sobre corrupção, apenas porque o partido acha que isso é bandeira da oposição.



Camila em campanha. A eleição lá é personalizada, favorecendo as lideranças

É fato também que as mobilizações nas universidades hoje ocorrem muito mais de movimentos externos, como foi no Fora Collor e na grande greve dos docente de 1998, do que em bandeiras fabricadas internamente. Mas isso não justifica o sumiço da importância da UNE.

Para termos uma ideia da falência popular da entidade, basta comparar o Twitter da presidente da FECH chilena, Camila Vallejo (@camila_vallejo), com mais de 268 mil seguidores, com o do presidente da UNE, Daniel Illescu (@danieliliescu), com pouco mais de 1,5 mil. Convenhamos que para um suposto formador de opinião nacional é um número ridículo.

Perguntei a algumas pessoas da UFRJ, onde Daniel estuda, e ninguém nem ao menos sabia que o atual Presidente da UNE era de lá. Aliás, não sabiam nem o nome dele.

A pergunta que muitos se fazem é: será que apenas o fato do PCdoB ser praticamente o dono da UNE seria suficiente para sumir com a entidade?

Claro que não. O fato dela hoje estar ligada a interesses paridários e defender o Governo cegamente é fator importante na desmobilização, mas outras variáveis também são importantes.

Raramente os presidentes da UNE são grandes lideranças de massa e falam a linguagem do estudante, como foi o caso de Lindbergh Farias em 1992/1993, à época do Fora Collor. É muito mais uma coincidência do que realmente formação. A maioria nunca teve voto popular em suas universidades, disputando a sério DCE, e por motivos obvios são lideranças mancas e fabricadas.

Não é o caso da chilena Camila Vallejo. Obvio que a estudante chama a atenção de todos por ser bonita e ter uma bandeira de luta simpática, mas percebe-se claramente quando fala que sua liderança foi forjada na disputa política e não nas reuniões cartoriais de partidos. Com presença organizada nas redes sociais e boa articulação na fala, não será surpresa o crescimento político de Camila.

Sei que uma parte do movimento estudantil é contra a personalização, mas não se fabrica lideranças sem pessoas e líderes reais. Nossa característica política incentiva o personalismo, e não conseguimos fugir disso, por mais que não se concorde.

No caso da UNE, seus últimos presidentes só conseguiram aparecer no noticiário para explicar patrocínios estatais e subvenções governamentais. E culpar única e exclusivamente a mídia por isso é completa miopia, pois a UNE não consegue mais massificar bandeira alguma.

Na prática o movimento estudantil se fracionou em vários grupos de interesse, como as empresas juniores ou comissões de assuntos específicos (esportes, Casas do Estudante ou bolsistas) pois é muito mais eficaz. Os diretórios de base (DA) ainda sobrevivem porque estão mais perto do estudante, mas as entidades gerais hoje infelizmente estão acabadas.

Talvez o modelo de eleição da UNE até esteja equivocado, pois a estrutura partidária favorece ainda mais a mobilização de delegados, mas a verdade é que Movimento Estudantil só sobrevive na independência ou oposição.

Ser governista é o primeiro passo para a desmobilização, e isso é fatal para qualquer entidade

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