A PRAGA AMBIENTAL DA PONTE SOBRE O RIO NEGRO
Sob o título “Ponte pode ameaçar preservação da Amazônia”, reportagem publicada na quinta-feira passada pelo jornal britânico The Guardian, afirma que a construção da ponte “Manaus-Iranduba”, assim como a abertura de "auto-estradas e oleodutos”, “até permitem acesso às vastas riquezas naturais do Brasil, mas ameaçam a maior floresta tropical do mundo".
Desinformados, os ingleses não dão conta somente do impacto ambiental negativo dessas obras, mas principalmente do fato de que essas edificações megalomaníacas só darão “acesso às vastas riquezas naturais” a um pequeno e reduzido grupo de privilegiados, cooptados pelos idealizadores desses verdadeiros monstros ecológicos erguidos sob o nariz do povo que tem fome de frutas, verduras e legumes de qualidade, não importadas de outros Estados, e sede de água potável para beber ou ao menos servível para tomar o banho de cada dia, sem ter que se deslocar aos famigerados poços públicos, isto quando há.
As prioridades do povo, portanto, continuam as mesmas de vinte anos atrás, pois como dizia minha bisavó, “água é essencial porque limpeza Deus amou”, e “lombriga em barriga de menino é ausência de educação básica para a vida”
Mas se for diferente disto em que acredito, melhor para o povo.
Uma ponte e um gasoduto são obras importantes? Sim! Gastar enormes recursos com a recuperação de uma estrada que só existe num traçado em linha visto de elevada altitude integra a Amazônia? Sim, como não!
Mas para o Amazonas de hoje, com suas dificuldades de desenvolvimento relacionadas ao favor fiscal que a nação nos “concede”, e com o tempo perdido ao longo dos anos em que os cofres do Estado foram abarrotados de recursos não investidos em infra-estrutura séria e incentivadora da auto-sustentabilidade, tais obras são efetivamente prioritárias?
Evidente que não!
E a inversão de prioridades no investimento dos recursos públicos é algo que passa da insensatez e chega às raias da insanidade, neste Estado.
Ademais, nem os cegos deixam de perceber os enormes interesses financeiros que estão camuflados sob pontes, estradas e outras extravagâncias aprimoradas nos últimos anos, neste Estado. E sob o aplauso de tantos, que começo a crer que o doido sou eu.
Doido ou não, enxergo muito bem e vejo o tamanho do desastre do desperdício com o dinheiro público, que fatalmente aplicado naquilo que é básico e necessário para a população amazonense, evitaria o tempo perdido na involução social que esses “investimentos” já provocaram e continuam a provocar.
E por ver bem, quando passo na Constantino Nery e observo a imoral demolição do VIVALDÃO para dar lugar a outro projeto tão insano quanto desproporcional às reais necessidades do povo – e até da sagrada copa de futebol mundial -, fico imaginando que poucos podem enganar muitos por algum tempo, mas não todo o tempo, e concluo que se estão pagando para alguém demolir aquele estádio, ou são loucos ou mal intencionados, ou ambos, já que eu faria a demolição de graça, só para ficar com o RICO ENTULHO decorrente da demolição, e que ninguém sabe para onde está indo ou o que com ele é feito. Mas eu desconfio.
Retornando à reportagem do The Guardian, quase morri de rir ao ler que os ingleses informam que a “enorme estrutura simboliza o crescente desenvolvimento no coração da maior floresta tropical do mundo e vai trazer as tão necessárias oportunidades econômicas para aqueles que vivem na outra margem".
Só faltou perguntar aos “que vivem na outra margem”, se prefeririam a ponte, ou educação de qualidade para seus filhos? Saúde preventiva e curativa decentemente aplicada pelo Estado, aos seus pais? E renda e emprego sem impacto nas pacatas vidas que levam do outro lado do Rio, entre conformados com a sorte e extasiados como o monstro de concreto que lhes foi imposto como salvação da lavoura, que, aliás, no Amazonas é quase nenhuma, porque de plantar grãos em nossas ricas e quase perenes várzeas, disto os governos não cuidam, já que tal cultivo não impacta no nosso meio ambiente já que é dele natural e logicamente resultante como atividade produtiva para ser implantado, como não devem gerar tantos “dividendos” e “bônus” como gasodutos, pontes e estradas - no que espero ser bem entendido pelo leitor.
Por força absoluta do que lhes é historicamente negado pelos “donos do poder”, sequer tenho certeza sobre se esses nossos irmãozinhos “do outro lado”, teriam a percepção da realidade daquilo que lhes é efetivamente necessário para melhorar a qualidade de vida?
E isto, o que mais me entristece e afronta, diante da inversão de prioridades que se vê na Administração do Estado, correndo frouxo o interesse de uma minoria viciada e criminosamente alienada para lidar com os recursos e necessidades do povo.
Mas da leitura da matéria do The Guardian, o que não se pode negar, de verdade, dando razão absoluta aos ingleses, é que, segundo a reportagem, a tensão entre o desenvolvimento econômico e a proteção de um recurso global é um grande desafio para o Brasil, um enorme país com grande diferença entre ricos e pobres e extensa corrupção a níveis local e nacional.
O jornal diz, ainda, que a maior esperança para a preservação da floresta amazônica é o esquema de créditos de carbono conhecido como REDD, atualmente em negociação na ONU, cuja idéia de trazê-lo e aplicá-lo no Estado foram por mim desenvolvidos na ocasião em que por uma dessas infelicidades da vida, aceitei ser secretário de Estado do Governo de quem acabou se tornando vândalo nessa questão da inversão das prioridades básicas do povo e dos valores democráticos.
Desnecessário dizer que a idéia que propus foi solenemente ignorada, à época, certamente pela “visão” das “pontes” e outros “projetos” que melhor retratassem a face oculta do governante da ocasião.
E assim, vai caminhando a humanidade... Por cima de pontes e perdas irreparáveis!
Fonte:blog do Holanda!
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